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domingo, 13 de dezembro de 2015

Simples




Se você é daqueles que acha que entender de vinhos é uma condição moderna para ter destaque social, acha que precisa assumir postura “de professor” constantemente, não se aguenta fica em silencio, colaboro com algumas dicas:

Treine até conseguir pronunciar sem se engasgar o nome de algumas variedades como Müller Thurgau (pronuncie miler turgó), Gewürztraminer, Pinotage e outras que encontrará na internet. Falar fluidamente estes nomes chama a atenção.
Ao citar a Müller e a Pinotage e deixar algumas pessoas admiradas, não pare, continue em sua cruzada rumo a consagração final afirmando: ”Estas duas variedades são híbridas interespecíficas, ou seja, cruzamento de variedades da mesma espécie, neste caso Vitis vinífera com Vitis vinífera”
Se alguém fizer mais perguntas sobreo tema peça licença e vai em direção à mesa de canapés se esconder. Se ficar dando sopa poderá ser descoberto.

Diga em alto e bom som para ter certeza que a galera ouviu que “No último telefonema que tive com Paul, ele comentou que a safra em Margaux não seria das melhores”. Alguém próximo, intrigado perguntará: “Que Paul?”
Bola na área amigo, aproveite e mate a jogada. “Meu amigo Paul Pontallier, diretor técnico do Château-Margaux que conheço desde 1992”.
Se alguém fizer mais perguntas peça licença e vai para a sacada tomar ar porque centre os convivias poderá ter alguém que verdadeiramente o conhece.

Ao receber uma taça de espumante, sinta os aromas sem agitar a taça e diga: “Sem sombra de dúvida as leveduras cumpriram sua magnífica missão “post mortem” ao liberar os aminoácidos responsáveis pela complexidade e elegância deste espumante”. É importante manter-se sério porque se rir ao ver a cara de admiração e paixão dos ouvintes vai tirar credibilidade.

Agora se você é daqueles que bebe vinhos e espumantes por prazer, sem ficar preocupado em impressionar, beba em silencio. Se tiver de falar diga palavras simples, compreensíveis, do vocabulário rotineiro das pessoas.

Os vinhos não foram criados para serem falados e sim para serem compreendidos, saboreados, desfrutados.

É chato aguentar descrições novelescas, do tipo “o aroma deste vinho me lembra as margaridas recentemente floridas do jardim da minha tia no interior de Mendoza”.

Margaridas, jardim da tia, Mendoza?

Certa vez numa degustação promovida por uma Confraria, um produtor da Serra descreveu seu Tannat de forma tão poética e cheia de arabescos que um amigo meu, jornalista experiente no tema, me disse baixinho: “Meu caro, não entendi nada do que ele falou, mas o vinho não me agradou”

Ficou aliviado quando respondi: Não fica preocupado, eu também não entendi e também não gostei do vinho.

Nós produtores temos de evitar fazer descrições superlativas de nossos produtos sob o risco de não sermos levados a sério. A modéstia e a humildade devem ser características sempre presentes em nossas posturas, ajudam.

3 comentários:

Vasconcelos disse...

Kkkkkk, otimo texto! E, desgraçadamente cômico...não fosse a realidade do dia dia de quem busca se aprofundar com paixão e seriedade nesse mundão do vinho. Eita mercado pra ter poser! Parabéns Lona, sem frescura é mais gostoso, rs! Abs

Adolfo Lona disse...

Obrigado amigo Vasconcelos, bons tragos

Katina disse...

Genial. Muito inspirado, vou compartilhar.



Euvaldo Jr.