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sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Serra Gaúcha que eu conheci – 9



O Mercosul

O segundo tema espinhoso tratado no grupo criado pelos países membros do Mercosul para discutir a harmonização das leis vitivinícolas, foi a chaptalização.

Jean-Antoine Chaptal foi um brilhante químico francês que ocupou o cargo de Ministro do Interior de Napoleão no século XIX. Chaptal escreveu um tratado sobre como conduzir as vinhas para obter uvas apropriadas para elaborar vinhos de qualidade. Napoleão fez muito pela recuperação da região de Champagne em declínio por causa das guerras e ao nomear Chaptal acabou proporcionando uma oportunidade de melhora dos vinhos desta região.
O Ministro desenvolveu e colocou em prática um projeto que autorizava o uso de açúcar exógeno (não de uva) para aumentar o teor alcóolico dos vinhos, carentes deste componente pela falta de maturação das uvas de Champagne por causa do frio e das chuvas.

Esta prática conhecida como chaptalização e permitida em algumas regiões, também é autorizada no Brasil. Na Europa se utiliza o açúcar de beterraba e no Brasil o de cana. Diferenças? Não se é utilizada açúcar super-refinada. É uma questão de disponibilidade.

Nos países onde a maturação é suficiente o uso de açúcar é proibido e na Argentina a presença na cantina, ainda que em pequena quantidade, é motivo de prisão.
Desta forma a comitiva argentina via a chaptalização como um tema de policia.
Eu, apesar de ser contra o uso indiscriminado do açúcar, tive de defender a posição brasileira.

Na minha opinião a chaptalização não é danosa pelas poucas gramas de açúcar que se adicionam que não alteram muito o produto final, mas sim pelo efeito danoso da uva pouco madura na qualidade do vinho.
As uvas verdes, salvo nos vinhos base espumante, resultam em vinhos desarmônicos, desequilibrados, duros, verdes e difíceis de beber.

Coibindo a chaptalização os produtores seriam obrigados a ter rendimentos menores, podas curtas, menos adubação proporcionando uvas, em especial tintas, com taninos mais maduros, macios, agradáveis.

A lei brasileira permite a adição de açúcar para corrigir até 3% de álcool em volume o que equivale a adição de aproximadamente 50 gramas por litro (cada 17 g/l se produz 1% de álcool) quantidade que até o ano 2000 não era possível controlar analiticamente.

Nesse ano a metodologia de análises através do exame dos isótopos estáveis de Carbono foi desenvolvida e ajustada e se transformou num divisor de águas: a partir dela foi possível detectar a origem do álcool do vinho, se de uva ou de cana.

Aproveitando o tema devo disser que acho equivocado manter a chaptalização como uma prática permitida para elaborar vinhos.
Nos novos parreirais conduzidos em espaldeira, com fileiras baixas sem arames na horizontal, é possível produzir uvas com teores de açúcares suficientes para obter pelo menos 11%, de álcool etílico, suficiente para lograr vinhos equilibrados.

Na minha opinião a chaptalização deveria ser proibida para vinhos seguindo um cronograma de não mais de três anos de prazo.
Os vinhos comuns produzidos a partir de uvas americanas conduzidas no sistema de latada, mais produtivos e por isso com carência de açúcares teriam a lei brasileira de vinhos que os favorece já que define os vinhos leves com teor alcóolico de 7 a 10% e os de mesa entre 10 e 13%. Ou seja, se há dificuldade de obter maturação através da diminuição da produtividade, coisa que duvido, a solução será produzir vinhos com menos álcool.

Infelizmente o Ibravin conseguiu convencer o Ministério da Agricultura a publicar uma resolução diminuindo modestamente a quantidade de açúcares permitidos nas futuras safras mas perpetuando a chaptalização.

Com certeza, por razões corporativas, se impediu um avanço compulsório na qualidade dos futuros vinhos.

Um comentário:

Leandro C. Ebert disse...

Lona, sei que o é tema polêmico e que há muita gente contra, mas ainda assim faço questão de me posicionar e concordo contigo. Sou contra a chaptalização, acredito já ser comprovado que podem ser feitos vinhos de alta qualidade sem chaptalizar, como alguns já o fazem aqui no Brasil.

Talvez ainda em safras fora do padrão ou algo do tipo... mas essa permissividade exacerbada, sem dúvida é prejudicial.

Mas talvez a prática da produção de vinhos com teor alcoólico moderado e o controle da produtividade, das podas, do manejo do dossel vegetativo, da sanidade da planta... sejam formas que possibilitem essa maturação adequada que não necessite adicionar açúcar, como já escrevi no meu site o PortalVitivinicultura.webs.com e fui também, de certa forma, bastante criticado. Pode ser difícil mas é pelo bem do vinho.

Um abraço e saúde!